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Copom reduz juros para 8,75% ao ano, a menor taxa da história

Desde janeiro, o BC cortou a Selic em 5 pontos percentuais e no mês passado, a taxa caiu abaixo da barreira psicológica de 10%.

Fonte: Diário do ComércioTags: juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem a redução da taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, de 9,25% para 8,75% ao ano, o índice mais baixo da série história, iniciada em 1996. Foi a quinta diminuição consecutiva nos juros.  Desde janeiro, o BC cortou a Selic em 5 pontos percentuais e no mês passado, a taxa caiu abaixo da barreira psicológica de 10%.

A decisão foi tomada por unanimidade e sem viés – ou seja, a taxa só pode ser alterada em nova reunião do Copom, a ser realizada nos dias 1 e 2 de setembro. Com ela,  o ritmo de corte dos juros caiu à metade porque nos dois últimos encontros do Copom, em abril e junho, a taxa foi reduzida em 1 ponto percentual.

Segundo comunicado divulgado pelo BC, esse patamar de juros "é consistente com o cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas ao longo do horizonte relevante, bem como para a recuperação não inflacionária da atividade econômica". No texto, o Copom não faz nenhuma menção a novos cortes – o comunicado do mês passado dizia, explicitamente, que "qualquer flexibilização adicional deverá ser implementada de maneira mais parcimoniosa".

Fim da flezibilização – Para o economista do Itaú Unibanco Asset Management, José Luciano da Silva Costa, o comunicado indica que o ciclo de afrouxamento de juros no Brasil pode ter chegado ao fim. "O Comitê avalia que esse patamar de juros contribuirá para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas, bem como para a recuperação não inflacionária da atividade econômica", disse.

O economista destacou, ainda,  o fato de o BC ter retirado uma frase presente nos textos anteriores, condicionando os passos futuros da política monetária ao comportamento da inflação. "Isso deixa claro que o ciclo de cortes de juros pode ter chegado ao fim."

Segundo o economista-sênior do Banco Santander, Maurício Molan, a expectativa de sua equipe econômica era de que pudessem ocorrer votos favoráveis a um corte menor ou até mesmo à estabilidade da Selic. "Mas essa unanimidade foi compensada pela nota, que eliminou espaços para futuros cortes de juros, pelo menos neste ano", avaliou.

Também para o economista do BES, Jankiel Santos, o comunicado sinalizou o fim do ciclo de redução da Selic. "Esse é o patamar", disse Santos. De acordo com ele, o Copom agiu coerentemente com as sinalizações emitidas desde a reunião de junho e tomou a decisão correta ao cortar em 0,5 ponto a Selic. "Se o BC continuasse a injetar estímulo na economia correria o risco de ter que elevar juros no futuro", explicou Santos.

A grande dúvida – Na tarde de ontem, o mercado ficou um pouco mais cético. O comunicado do Copom só reforçou a visão de que o afrouxamento acabou e de que a Selic deve ficar estável por um bom tempo – no mínimo até o final de 2009, com grandes chances de permanecer assim na maior parte de 2010 ou no ano inteiro. A  incógnita é descobrir o momento em que o BC será obrigado a elevar novamente o juro básico, na trajetória de recuperação econômica que pode  resultar em  pressões inflacionárias.

Com a redução na Selic efetuada ontem pelo BC, o Brasil melhorou duas posições no ranking mundial de juros reais (veja na arte) – calculados após o abatimento da expectativa futura de inflação, segundo dados da Consultoria UpTrend . 

Um consenso: juros  poderiam ser ainda menores

A decisão do Copom de cortar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para 8,75% ao ano, dividiu a opinião dos agentes econômicos, que no entanto concordam em um ponto: as taxas poderias ser menores. Para a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a medida foi positiva. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou "prematura e equivocada" o abrandamento da política monetária.

Para a Fiesp, o ideal é a Selic  atingir rapidamente o patamar de 7% ao ano. "Embora tenhamos alcançado a menor taxa já registrada, ela é de 8,75% ao ano, ou seja, 4,5% acima da inflação, quando o  mundo, sob o efeito de uma crise econômica sem precedentes nos últimos 70 anos, pratica taxas de juros reais negativas ou próximas de zero", comentou Paulo Skaf, presidente da entidade.

Segundo  ele, juros de  7% ao ano representariam uma taxa real de 3%, "o que induziria o aumento dos investimentos das empresas e o consumo das famílias, promovendo a retomada do crescimento tão necessária à nossa economia".

Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, o  Copom demonstrou, mais uma vez, que está sensível às necessidades da atividade empresarial, ao fazer uma redução maior do que a esperada. "Isso deverá ajudar a acelerar um pouco mais a recuperação da economia e das vendas em vários setores, além de manter a reação que os consumidores já vem demonstrando. É importante, agora,  que se amplie a competição entre os bancos para que ocorra  também a redução dos spreads e dos juros do mercado."

A CNI criticou a redução da taxa básica  em apenas 0,5 ponto percentual.  Em nota, o presidente, Armando Monteiro Neto, afirmou que a crise financeira internacional não foi superada e cobrou um corte "mais expressivo". "Além disso, o comportamento dos preços no atacado, com a observância de taxas negativas nos últimos meses, claramente permite  uma política monetária mais agressiva."

A Força Sindical classificou  a decisão do Copom de "muito tímida". Em nota assinada por seu presidente, Paulo Pereira da Silva, a entidade diz que "a medida frustra os trabalhadores que ansiavam por uma queda maior, melhorando o ambiente econômico para o segundo semestre deste ano. Apesar da queda, os juros continuam em patamares proibitivos para o setor produtivo".

O sindicalista criticou a falta de ousadia e agressividade do Copom e disse que "o Brasil perdeu uma ótima oportunidade para reduzir a taxa de juros, fomentar o consumo e, consequentemente, aumentar a produção e criar novos postos de trabalho".