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Perdeu dinheiro com a crise? Especialistas avaliam chance de recuperá-lo
Como antes da Copa do Mundo de 2006, quando as pessoas pareciam ter sido tomadas por uma euforia coletiva com clima de "a taça já é nossa", no início do ano passado, a Bolsa iludiu um sem fim de investidores, principalmente os menos experientes, como
Karin Sato
Como antes da Copa do Mundo de 2006, quando as pessoas pareciam ter sido tomadas por uma euforia coletiva com clima de "a taça já é nossa", no início do ano passado, a Bolsa iludiu um sem fim de investidores, principalmente os menos experientes, como é o caso da maior parte da nossa população.
A situação era para lá de boa, na comparação com o momento atual, a ponto de alguns economistas avaliarem que não existiam motivos para tal. A Bolsa bateu os 70 mil em maio de 2008, o que deu vazão aos questionamentos sobre se as empresas valiam tanto. O fato é que, aconselhados por conhecidos, que estavam ganhando bastante dinheiro, muitos passaram a investir em ações justamente nessa época.
"No ano passado, o pequeno investidor, que contava com até R$ 100 mil para aplicar e, historicamente, sempre preferiu aplicações menos arriscadas, como os fundos de renda fixa, migrou para o mercado acionário em busca de lucros e resultados rápidos", lembra a economista e professora de Finanças da Fundação Vanzolini, Sandra Biagioli.
Foi quando, no segundo semestre do ano passado, a crise mundial atingiu com força a Bolsa brasileira, que chegou a 29.435 pontos, em 27 de outubro de 2008. Não é preciso dizer que essas pessoas viram seus ganhos naufragarem. Porém, só perderam dinheiro mesmo aquelas que se desesperaram e realizaram prejuízo. Quem teve mais paciência está observando, neste momento, uma lenta e inconstante recuperação.
Dá para recuperar?
Na opinião do professor de Finanças da FIA-USP, Ricardo Almeida, se o investidor se desesperou e realizou prejuízo, infelizmente, não há o que fazer. "Ele precisa esquecer e se reerguer. Não adianta buscar recuperar o montante perdido, porque, ao se desesperar, pode acabar perdendo ainda mais, expondo-se a riscos altos", afirma.
A boa notícia para quem não entrou em pânico e permaneceu na Bolsa é que dá para recuperar o dinheiro, embora não haja consenso, entre economistas, de quando. Pode ser daqui a um ano, dois ou três.
As variáveis são inúmeras: dependerá do comportamento das economias americana, chinesa e, é claro, da brasileira, dos preços das commodities, da demanda por exportações, da recuperação do crédito, do nível de emprego, entre tantas outras.
Recuperação, antes tarde do que nunca!
Os investidores que fizeram a lição de casa, e não aplicaram montantes dos quais iriam precisar no curto prazo, devem esperar, porque a recuperação virá, cedo ou tarde, diz Almeida.
O professor da pós-graduação em Ciências Contábeis e em Administração do Mackenzie, Wilson Nakamura, compartilha dessa mesma opinião. "Quem ficou na Bolsa não tem outra alternativa senão esperar, porque realizar outros investimentos não iria adiantar", explica.
Alguns dos especialistas que todos os dias se debruçam sobre o mercado financeiro são até bastante otimistas. Nakamura acredita que, até o final do ano, a Bolsa pode se recuperar. "O Ibovespa tem se recuperado e deve continuar subindo, embora com oscilações, em função de más notícias veiculadas na mídia e de movimentos de realização de lucros", afirma ele.
Segundo o professor do Mackenzie, até mesmo a queda da taxa básica de juros pode repercutir na Bolsa, com um movimento de saída da renda fixa e migração para o mercado de ações. "Mas isso não se dá abruptamente", garante.
Retomada sustentável
Outro otimista com relação ao mercado de ações brasileiro é o economista e presidente da Ricam Consultoria, Ricardo Amorim, que, em entrevista ao portal InfoMoney, publicada na semana passada, afirmou que, em cinco anos, a Bolsa poderá atingir os 200 mil pontos. Segundo ele, a retomada da economia no Brasil se dará de forma sustentável, embora o mesmo não deva acontecer em países como EUA e Japão.
"A alta da Bolsa brasileira ao longo dos próximos anos será muito significativa. A gente vai viver um ciclo parecido com o que foi vivido entre outubro de 2002 e setembro de 2008, quando a Bolsa subiu 800%", disse Amorim.
E quem precisa do dinheiro?
Por outro lado, é possível que investidores com menos experiência tenham apostado fichas altas na Bolsa, quando esta se encontrava no pico da alta, em 2008, de maneira que investiram mais do que poderiam e deveriam. O que fazer? Na opinião de Nakamura, se for possível, esperar pelo menos até o final do ano, porque, ao que tudo indica, os países emergentes estão conseguindo se recuperar mais rapidamente, o que deve alavancar os resultados da Bolsa.
"Quem quiser pode promover uma realocação em sua carteira de investimentos, migrando para ações que pagam melhores dividendos", opina.
Segundo ele, a recuperação recente da Bolsa está calcada em bons motivos: o varejo não parece ter sido muito atingido pela crise e o nível de crédito está sendo rapidamente restabelecido. "Medidas pontuais do governo, como a isenção do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo, têm surtido efeito", acrescenta.
Hora de buscar segurança
Sandra Biagioli, da Fundação Vanzolini, explica que, de fato, quem se desesperou com o movimento de queda da Bolsa e vendeu suas ações, deve se conformar. "O que perdeu está perdido", admite, ao lembrar que o investidor deve, neste momento, procurar aplicações mais seguras, para fugir da instabilidade atual do mercado financeiro. Ela também recomenda paciência àqueles que não saíram da Bolsa, porque a retomada aos níveis anteriores à crise deve acontecer dentro de um ano, em sua opinião.
Nakamura lembra que outro motivo para não arriscar nos investimentos no momento atual é o fato de muitos brasileiros, de todos os níveis hierárquicos, estarem perdendo o emprego. Nunca se sabe o que pode acontecer futuramente e é preciso estar preparado.
Lição valiosa
Os investidores que amargaram perdas precisam se levantar do tombo e recomeçar. Mas esta crise pode não ter sido de todo ruim. Ela deixou lições valiosas aos inexperientes. "Esta crise deixou marcas e algumas pessoas terão mais resistência ao mercado de ações daqui para frente, por conta do prejuízo. Mas elas aprenderam que é preciso tomar cuidado com o sonho de obter lucros muito altos em pouco tempo", afirma Sandra.
Ela alerta para o componente emocional que existe quando o assunto é investimento. "O problema é saber o tempo de cada um. Quando as pessoas acham que o momento é muito bom, rapidamente concluem que nunca ficará ruim. E quando está ruim, acreditam que irá melhorar agora. No entanto, oscilações e quedas bruscas acontecem sempre. Esta crise, muitos grandes economistas não previram. Porém, a verdade é que investir em ações sempre foi arriscado, com ou sem crise", afirma.
Em última análise, nada mudou de fato, já que a Bolsa sempre se caracterizou por picos de alta e de baixa, que acontecem de anos em anos. Para Nakamura, com ou sem crise, o pequeno investidor não deve aplicar mais de 50% em ações, por melhor que sejam as perspectivas. Ele deve procurar sempre aplicações com maior liquidez, caso precise do dinheiro de imediato. Essa é uma das lições mais importantes que a crise deixou.
A regra do colchão de liquidez é importante principalmente para os pequenos investidores que têm filhos ou que investem com o objetivo de se aposentar e estão prestes a parar de trabalhar. Não dá para arriscar em situações como essas.
A última lição que foi fatalmente aprendida pelo pequeno investidor é a da necessidade de saber analisar as empresas. "No Brasil, os juros baixos e o programa Minha casa, minha vida devem alavancar empresas do setor da construção civil. Já as empresas do varejo continuam firmes, porque a demanda interna se manteve, mesmo com a crise", exemplifica o professor do Mackenzie.